BEATRIZ GALHARDO
Antiestratigráfica, 2021
Beatriz Galhardo.

Ainda em processo, Antiestratigráfica é um estudo das
possibilidades de composição realizadas a partir do
material sonoro presente no desfazimento de peças de barro
cruas. As peças são feitas a partir do molde de cabeças,
cotovelos e joelhos de mulheres negras, seguindo técnicas
ancestrais de modelagem cerâmica e confecção de vasos
assoviantes característicos do território de Abya Yala.
Uma vez confeccionadas, as peças são expostas a sucessivas
deposições de água em seu corpo. O gesto compositivo do
trabalho consiste em procurar aí, nessa experiência,
ligações entre ritmo, terra, ressonâncias,
erosão/decomposição, sedimentação e escrita.

Desenvolvido com tutoria de Raquel Stolf na residência
artística do
ANTIESTRATIGRÁFICA
2021
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1. cinco cabeças, muitos cotovelos. igual em número muitos joelhos. as
dobradiças conduzindo as vibrações do ao redor até os tímpanos: as peles, as
madeiras, o oco dos instrumentos, o choque das mãos e as vozes. os ossos como
caixas de ressonâncias reverberando o pisar de tantos, tantos pés e
pedrinhas, pedrinhas, pedrinhas... naquele píer, de madeira ranhenta e os
metais enferrujados, o mar passando ali embaixo no entre das tábuas. É dia
dela, dona de todas as cabeças. plantadas em terra e mar, alterando os
sentidos gravitacionais entre o que é baixo e o que está em cima. para a
dobra ou arco de cada articulação há um oco ou pote de barro aguardando,
pacientemente, um pouco d’água.
2. o pensamento está por baixo, por baixo dos pés. ou
melhor, o pensamento está inscrito na casca daquele barco. o pensamento cobre
os pés e os tornozelos, mas também está no meio, flutuante. Sobre ele folhas
de palmeiras e três cabeças e seis cotovelos e seis joelhos e três vozes
balançando o barco chocando-o contra a frequência de tímidas marolas. O
pensamento vai junto com essa coisa toda entregar oferendas para o fundo do
fundo, caindo, caindo, nadando nadando, abissal do abissal (nunca acaba),
pedrinhas, pedrinhas, pedrinhas...
3.Elas parecem uma floresta com pernas e existem potes que são, de fato,
balaios. não são de barro, tampouco de plástico, mas sim de palha trançada.
assim como os balaios existem também as cabeças que são quase como jarros,
carregados de todas aquelas plantas. quando uma floresta ambulante passa por
nós é um pouco difícil descrever suas sonoridades, o que envolve as conduções
entre tudo o que está presente e o que conseguimos, com muito esforço,
escutar. elas passam, elas vão sempre em grupo e arrastam algo da gente
consigo.
2° Encontro Latino Americano de Arte Sonora - SomaRumor, 2021.
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Agradecimentos: à Raquel Stolf, Amanda Jacometi, Lina Marcela Colonia, Marjory Leonardo e Mariana Silva.